Por José Eustáquio Lopes de Faria Júnior (@juniorpitangui)
As rodas de conversa da
política nacional apontam para um único assunto: como vamos lidar com as regras
eleitorais para 2020? No próximo ano experimentaremos a mudança mais significativa
que uma eleição já teve no Brasil. Abaixo vamos destrinchar e falar um pouco
sobre os efeitos que as novidades trarão.
Basicamente a eleição de 2020
traz uma novidade central em relação às anteriores: o fim das coligações proporcionais.
Parece pouco, mas não é. Pelo contrário, vai mexer totalmente com o que
conhecíamos até aqui de eleição.
Por ser uma eleição municipal,
as mudanças serão ainda mais nítidas. O fim da coligação proporcional implica
em haver coligação apenas para candidaturas a prefeito. Ou seja, cada partido
lançará isoladamente uma chapa para vereadores. Ou seja, o PSDB vai ter seus
candidatos, o PT terá seus candidatos, o DEM idem. A novidade acaba com você
votar em um candidato e ajudar a eleger alguém que não é do partido. Essa era
uma crítica muito grande que existia no sistema eleitoral brasileiro, onde coligações
esdrúxulas às vezes traziam a reboque eleitos de direita com votos da esquerda
e vice-versa. Assim, quando um vereador deixar seu cargo para assumir uma
Secretaria, se afastar por doença, morrer ou candidatar a outro cargo no meio
do mandato, se terá a certeza (salvo caso de infidelidade partidária) que o
suplente que vai assumir será da mesma legenda.
Outra importante influência
que a mudança vai trazer será o fim dos partidos de um nome só nas cidades. Até
a eleição passada, era possível se montar uma chapa de coligação para vereadores,
onde um partido (em meio a um emaranhado de 6, 8, 10 siglas) poderia entrar
apenas com um candidato. E, em vários casos, esse um era o eleito, por ser o
mais votado de todos, mas aproveitando-se dos votos dos demais, já que seu
partido não tinha condições de lançar mais ninguém. Essa farra acabou e por
isso os partidos estão se mobilizando para filiar muita gente para ter bons e
competitivos pré-candidatos e/ou trocando de partido unificando estruturas partidárias
para se tornar mais forte.
Esse novo modelo certamente
trará um “boom” de candidaturas. Primeiro porque será necessário que cada
partido lance candidatos separadamente e não se aproveite de uma coligação para
ter seus nomes de sempre na lista. E também gerará efeitos indiretos nas
candidaturas para prefeito. Isso porque é notório que quando se lança um
candidato a prefeito competitivo, maiores são as chances de se eleger
vereadores. Logo, ter um candidato ao Executivo é um plus fundamental para que
a chapa do Legislativo do mesmo partido tenha visibilidade. Assim, a tendência
é que as candidaturas a prefeito pelo Brasil também cresçam substancialmente o
que, em tese, favorece candidaturas governistas pela divisão de votos ou deixa
o cenário mais indefinido diante da fragmentação do eleitorado.
Uma coisa muito interessante
que poderá ser analisada em 2020 será a questão dos efeitos da cláusula de barreira,
que entrou em vigor em 2018. Isso porque partidos que não atingiram a
porcentagem/Estados mínimos de votos não terão acesso ao fundo partidário nem a
tempo de TV e rádio. Certamente isso vai implicar em uma grande fuga de
candidatos dessas legendas. Basta ver os casos de Alexandre Kalil, prefeito de
Belo Horizonte, que migrou do PHS para o PSD e de Rafael Greca, em Curitiba, que
deixou o PMN pelo Democratas. A tendência é que outras legendas que estiveram
perto da “nota de corte” em 2018 também percam candidatos e minguem de tamanho
em 2020 e já se torne um prenúncio para um 2022, onde as regras da cláusula serão
ainda mais duras.
Vale salientar que as novas
regras não acabam com o “efeito Tiririca”, como alguns sites vêm divulgando erroneamente.
O sistema continua proporcional. Para acabar com o efeito Tiririca (onde exista
a figura do puxador de votos), só se as eleições de vereadores e deputados
passassem a ser majoritárias (vence quem obtiver mais votos). O que a eleição a
partir de 2020 garante, como citado acima, é que eventuais candidatos “puxados”
por um candidato bom de voto seja, em tese, da mesma linha ideológica do
primeiro, por estar na mesma legenda.
Como dito no início do artigo,
existe uma corrida silenciosa Brasil afora em seus mais de 5.500 municípios.
Partidos que antes viviam de uma pessoa estão correndo atrás de gente para
poder filiar e se lançar candidato. Quem não conseguir viabilizar uma boa
nominata de candidatos a vereador, vai simplesmente desaparecer. Um candidato
sozinho não vai conseguir levar uma chapa inteira nas costas. Em cidades
pequenas, vão precisar de no mínimo 5/6 bons nomes com votos na lista oferecida
ao eleitor para eleger 1 ou 2. Em cidades grandes, muito mais. Isso sem contar
a cota de candidaturas femininas, que precisa ser cumprida.
Em suma, a eleição de 2020
tende a ser um laboratório deveras interessante para quem gosta de política. A
tendência é que haja um fortalecimento dos partidos e a consequente diminuição
da fragmentação partidária em muitas cidades (menos bancadas, governabilidade
mais tranquila). Será necessário analisar ainda se a proliferação de tantas
candidaturas será benéfica em um país que optou (a meu ver, erroneamente) por
financiamento público de campanhas. No mais, será divertido acompanhar a janela
partidária em março/abril de 2020, quando vereadores poderão trocar livremente
de partido, que poderá antecipar bastante do que virá por aí em outubro do
próximo ano.
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