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União Brasil: O que o novo partido representa para a política do País?

Por José Eustáquio Lopes de Faria Júnior (@juniorpitangui)
 
Nesta semana foi formado o União Brasil, fusão do Democratas (DEM) e do Partido Social Liberal (PSL). A previsão é que o processo no TSE seja aprovado entre janeiro e fevereiro para que possa disputar normalmente as eleições de 2022. Com a junção, forma-se a agremiação partidária com maior fundo eleitoral/partidário e de maior tempo de rádio e televisão da disputa do próximo ano.

Muito se tem falado desse partido, que adotará o número 44 nas urnas, mas alguns aspectos devem ser trazidos à tona para entender – da maneira certa – como será a formação desse novo partido.

Um dos pontos importantes é que a imprensa vem dando destaque à bancada eleita em 2018 formada pelo partido. A bem da verdade, a maior importância dela não é nominal e sim numérica, que, inclusive não muda (independente de quantos entrarem ou saírem), sendo referência para distribuição do fundo e do tempo de TV. Quanto a nomes, é óbvio que esse processo levará a saídas, afinal nem todos ficam contentes com os arranjos locais e, além disso, ainda restam os bolsonaristas radicais na bancada do partido.

O que ocorre é que, da mesma forma que haverá saídas, também haverá entradas. E não serão poucas. Lá na janela de março de 2022, quando todos os deputados estarão livres para escolher seu partido, o fundo vai pesar. E não somente ele, o fato do partido ganhar corpo naturalmente em vários estados vai ser ferramenta de atração de parlamentares em partidos menores, que não conseguiram estruturar nominatas em virtude do fim das coligações proporcionais. Felizmente a era do partido de um nome só acabou.

E não duvide: podem haver deputados simpáticos ao governo Bolsonaro que eventualmente fiquem no União Brasil simplesmente pelo fato de não cometer um suicídio político. Sair por sair não dá, cada Estado tem uma realidade própria e os partidos também para onde gostariam de migrar talvez não tenham mais espaço na chapa. E como dessa vez cada partido terá um “time” próprio, mexer na configuração pode ser crucial. Se uma chapa é feita com a perspectiva de uma cadeira e chega alguém para ter mais votos que você, gera uma crise que alguém pode sobrar.

Em suma, o desenho que vai interessar do novo partido será o de 2 de abril de 2022, quando se encerra os 30 dias de janela. Até lá haverá muito embate, negociações, disse me disse, gente se auto intitulando presidente do partido aqui e acolá. Certo é que terão muito poder de fogo para fazer bancada e, até por isso, a fusão mexeu com os brios de Ciro Nogueira (do PP), que vê na fusão um entrave para fazer a maior bancada em 22.

ACM Neto, agora Secretário-Geral do União Brasil, vem fazendo uma analogia matemática para explicar esse fenômeno, dizendo que em um primeiro momento 2 + 2 = 3 (ou seja, a soma de DEM e PSL resultará em 1 partido e meio, pela saída de parlamentares descontentes), mas que lá em abril essa soma pode ser 2 + 2 = 5, pela força de atração do partido. Se o trabalho for bem feito, sobretudo na distribuição de poder nos Estados, não duvide do partido chegar em abril na casa dos 80 deputados, ou seja, repondo integralmente a saída dos políticos da Câmara dos Deputados que ocorreria no primeiro momento.

Apesar da fusão ter mexido com o Ministro da Casa Civil de Bolsonaro, será com o PSD que o novo União Brasil protagonizará uma guerra fria nas próximas eleições. Os bastidores entre os partidos já estão pegando fogo. Ambos disputam o passe de Geraldo Alckmin, hoje líder nas pesquisas para Governador de São Paulo. Por sua vez, Kassab tenta tirar Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, dos quadros do União Brasil. Fato é que, com a fusão, o partido ganhou mais poder de convencimento para segurar e atrair quadros. E ter nomes competitivos na cabeça de chapa pelos Estados é interessante para o que com certeza é a prioridade nº 1 do partido em 2022: fazer uma numerosa bancada.

E a terceira via presidencial? Bem, essa só o tempo dirá. Hoje o partido apresenta Luiz Henrique Mandetta, fala-se em Rodrigo Pacheco (se ficar) e José Luiz Datena. Um grupo vindo do PSL engraça-se com Sérgio Moro, que voltou à tona. Não se descarta, ainda, um apoio a Eduardo Leite, visto como nome mais palatável pelo novo partido que João Dória, e Ciro Gomes, que tem boa relação com ACM Neto. Com o tempo de TV que tem, o partido tranquilamente indicaria o vice de quem apoiar. E talvez seja até o mais interessante a se fazer, pragmaticamente falando, para direcionar a maior parte da grana em fazer deputados e senadores no próximo ano.

E fazer uma grande bancada é fundamental para o novo partido de saída. Além dos fatores óbvios, seria o principal partido de oposição a Lula, fator determinante de governabilidade de um governo de terceira via ou peça determinante para colocar freio nas aventuras bolsonaristas. E, lembre-se, além do fim das coligações proporcionais, a cláusula de barreira ainda seguirá valendo. Ou seja, deputados de partidos que não alcançarem o número mágico, poderão migrar logo no início do mandato. E partidos podem se fundir a rodo a partir de 2023. E assim abre janela para outros tantos saírem. E o União Brasil já terá feito esse trabalho e só esperará os descontentes de braços abertos.

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